domingo, 27 de março de 2011

AS ARMAS DOS EUA TAMBÉM MATAM NAS FAVELAS DO RIO

Por Thiago de Souza Melo, no Fazendo Media
          Em sua visita à Cidade de Deus, favela da zona oeste do Rio de Janeiro, o presidente Barack Obama assistiu crianças e jovens em apresentações de percussão, capoeira e futebol. Mas se tivesse visitado mais algumas comunidades cariocas, das cerca de mil existentes, fatalmente encontraria varejistas do comércio de drogas e milicianos empunhando armas de grosso calibre, a maioria de fabricação americana.
          Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos propagandeiam para todo o mundo sua política antidrogas, suas armas continuam alimentando clandestinamente mercados ilícitos e guerras civis. Essa é a razão para os protestos do México e países da África Central contra a postura permissiva de Washington com o tráfico de armas, comprometida flagrantemente em preservar sua liderança na produção e exportação de armas de fogo. Não é de se estranhar que os Estados Unidos foram o único país a votar contra a intenção de se criar um Tratado Internacional de Controle do Comércio de Armas, em deliberação da Organização das Nações Unidas (ONU), de dezembro de 2008.
          A criação de um Tratado Internacional de Armas também é de interesse dos brasileiros. Segundo um estudo divulgado pelo Ministério da Justiça em 2010, o Brasil é campeão mundial em números absolutos por morte de arma de fogo, com aproximadamente 34,3 mil homicídios por ano.  No Rio de Janeiro, o quadro não é diferente, o estado contabilizou 4.768 homicídios em 2010, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP/RJ), o maior índice absoluto da federação, óbitos estes que em sua grande maioria foram provocados com armas de fogo. Esta mórbida liderança é compartilhada com a cidade do Rio e também sua região metropolitana.


          Embora se estime que cerca de 80% das armas em circulação no Rio de Janeiro sejam de fabricação nacional, as armas de origem estrangeira, mesmo em menor quantidade, são em geral de grosso calibre e semi-automáticas. Dentre as estrangeiras, destacam-se as norte-americanas, que correspondem a mais de 50% (ou 10% de todas as armas em circulação). O que não é nada desprezível, tendo em vista o poder de alcance e destruição desse arsenal. Isso não significa que devemos minimizar a enorme contribuição nacional para o tráfico de armas. Reivindicar a urgência de um Tratado Internacional de Armas não é eximir as autoridades brasileiras de suas responsabilidades, pelo contrário, é ter uma compreensão global do problema. O Brasil, além de despejar grande volume de armas no mercado interno, é o sexto maior exportador de armas pequenas.
          No entanto, foi praticamente impossível fazer esse debate durante a mais recente visita de um presidente estadunidense à Terra de Santa Cruz. O clima de oba-oba foi irresistível, abafou qualquer crítica que se esboçasse, que o digam os 13 ativistas detidos por três dias, após protestar contra Obama em frente ao Consulado dos Estados Unidos, no Rio. Definitivamente, não deu tempo para muitas reflexões. Muitos estavam ocupados a render salvas ao mais heterodoxo pacifista da atualidade, ao chefe de estado que mantém ativa a base de Guantánamo, que anuncia em território brasileiro o ataque dos países aliados à Líbia, com o maior sorriso do mundo.
          Terminado o turismo de negócios de Barack Obama e família, talvez haja mais atenção para o combate ao tráfico de armas, tema estratégico para a segurança pública do estado do Rio de Janeiro.  Pelo menos, há alguma chance que isso ocorra. Na Assembléia Legislativa, foi instalada a CPI das Armas precisamente com esse objetivo. Quem sabe chamem algum Zé Pequeno para nos contar como conseguiu adquirir seus brinquedos da Colt, Winchester, S&W, Magnum, Stanley etc.
          Enquanto isso, na Cidade de Deus, tudo tomou seu lugar, depois que a banda passou.

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