quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os Desaparecidos do Rio de Janeiro

Por Debora Ierrer, da CartaCapital

A morte de Juan Moraes, aos 11 anos, durante uma operação policial na Favela Danon, em Nova Iguaçu, em junho, tornou-se um divisor de águas na política de segurança do Rio de Janeiro. Em pouco tempo entrou em duas estatísticas importantes: na de vítima de operação policial e na de desaparecidos que foram mortos.  Por um lado, a morte de Juan demonstrou as circunstâncias nada conformes dos “autos de resistências” registrados por alguns PMs. Mesmo uma perícia realizada oito dias depois revelou que, no local, só  havia balas das armas dos policiais. Com o escândalo, a Polícia Civil baixou uma portaria exigindo mais rigor nas investigações dos autos de resistência. Mas foi a ocultação do cadáver de Juan, que escancarou mais uma vez uma prática frequente no Estado do Rio de Janeiro: o desaparecimento de corpos, sinistra herança da ditadura militar.
Enquanto Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro, comemora a redução de 11,4 % de homicídios no primeiro semestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010, o número de desaparecidos continua com números expressivos e crescentes. Aumentou de 2.643, em 2010, para 2.879, em 2011, ou seja  9%.  E nessa conta não entram os cadáveres e ossadas encontrados no estado, número que foi 329 em 2010 e 299 em 2011, a maioria dos quais enterrados como indigentes, sem sequer um cruzamento com os registros de desaparecidos. É por conta desses números que Antonio Carlos Costa, presidente do Movimento Rio de Paz  afirma: “Enquanto não houver esclarecimento dos casos de pessoas desaparecidas, qualquer afirmação em termos absolutos sobre redução de homicídio no Rio de Janeiro é chute”.
Na cidade do Rio de Janeiro, uma média de 200 pessoas por mês tem seus sumiços registrados nas delegacias. Embora cerca de 70% dos desaparecidos reapareçam, já que na categoria entram os jovens que fogem de casa e os idosos que se perdem na rua, Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da UERJ, lembra também que muitos desaparecidos não são registrados. “A gente conhece muitos casos de favelas nas quais uma pessoa foi morta, o corpo não foi encontrado, mas a família não registra por medo da polícia, porque já sabe que as vítima morreu e não tem expectativa de encontrar a pessoa com vida.”
O lavrador Áureo Neves, de 66 anos, perdeu três de seus filhos entre 2005 e 2006. O mais velho, Eduardo, de 33 anos, trabalhava na Comlurb, e o mais novo, Áureo Filho, com 16 anos, o ajudava  a criar porcos em seu sítio na estrada Grajaú-Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Ambos morreram  em supostos confrontos com a polícia.  Do primeiro, Áureo, diz que se envolveu com drogas e que os policiais “cismaram que ele era o dono da boca”. Segundo testemunhas, foi executado depois de ferido na perna no dia 15 de setembro de 2005. Do segundo, afirma, “o envolvimento dele era com namoradinha do morro”. Diz que sua morte foi pura covardia. Voluntário na Brigada de Paraquedistas, em 1964,  viu que o tiro na cabeça do filho foi dado de cima para baixo e pelas costas. Desses, pelo menos, teve o corpo. Já de Leandro, nem isso.
Este filho, segundo Áureo, realmente lhe deu “dor de cabeça”. Cumpria condicional por roubo. No dia 28 de novembro de 2006, a mulher dele, Danielle Fontes, saiu da creche onde trabalhava, em Lins de Vasconcelos, após um telefonema do marido. Leandro tinha sido ferido por policiais em Quintino. Nunca mais ambos foram vistos. Atrás do filho e da nora, chegou a brigar na delegacia, pois lhe repetiam que seu filho era bandido. “Pobre não consegue nada. É um aborto da natureza. Não pode constituir advogado, não pode nem estar ali direto na delegacia.”  Tanto Áureo como a filha do casal, então com 4 anos, tiraram sangue para checar o DNA com corpos encontrados, mas nas duas únicas checagens deu negativo.
A categoria “desaparecido” entrou no vocabulário da violência no Brasil através dos presos políticos, a maioria dos quais, filhos de famílias da classe média, se organizam em grupos como o “Tortura Nunca Mais”e mantêm a boca no trombone desde a redemocratização do país. São ao todo 379 desaparecidos políticos no Brasil, presumidamente mortos pela repressão.
O Instituto de Segurança Pública realizou uma pesquisa sobre desaparecidos pós-ditadura em cima das ocorrências registradas do ano de 2007. De acordo com os dados coletados com uma amostra contatada por telefone, concluiu-se que cerca de 71,3% dos desaparecidos haviam reaparecido vivos, 14,7% não reapareceram; 6,8% reapareceram mortos, 4,4 % não obteve informação; e 2,9% tiveram seu registro de desaparecimento não confirmado pela família.  Fazendo uma estimativa com o índice – considerado subestimado -  de 6,8% de desaparecidos comprovadamente assassinados em relação ao universo dos casos registrados de 2000 a junho de 2011,  que é a cifra de 54.479, daria 3.704 casos,  praticamente dez vezes a mais de vítimas do que no tempo da ditadura.
Em zonas como a Baixada Fluminense, a ida a uma festa pode significar  risco para jovens como Fábio Eduardo Santos de Souza, então com 20 anos. No dia 9 de junho de 2003, ele e Rodriguo Aubílio,  de 19 anos, foram vistos pela última vez depois de deixarem uma amiga em casa, após uma festa junina. Segundo sua mãe, Izildete Santos da Silva, de 60 anos,  testemunhas viram ambos levando uma “dura” de policiais e sendo colocados no camburão. Em busca por Fábio desde esse dia, Izildete chegou a escutar na delegacia para  “não se preocupar” que ele devia ter ido “trabalhar para a Petrobras”.  Três meses depois, outro filho, Wallace, então com 16 anos, foi pego durante a inauguração de uma discoteca. Dessa vez, no meio da madrugada, vieram lhe avisar e ela saiu correndo atrás de seu paradeiro. Este, conta ela, foi despido, estava de joelhos em um terreno baldio, quando seus algozes  mandaram-no correr.  Foi solto, relata ela,  porque um “bêbado” notório na região testemunhava a  cena. Este levou Walace para casa, deu-lhe uma bermuda, mandou-o embora dali e depois sumiu da região. A peregrinação de dona Izildete pelo filho lhe acarretou ameaças à sua vida e à de seu filho “especial”, que depois do sumiço do irmão “Iba”, que cuidava dele, nunca mais voltou a andar e a falar.
O pesquisador Fábio Araújo, que faz doutorado na UFRJ em cima desse tema, aponta que o desaparecimento de corpos de pessoas assassinadas é uma prática comum “no repertório da violência urbana” do Rio de Janeiro. Esses casos não são geralmente investigados porque “se não há corpo, não há crime”, como dizem delegados e policiais. Além disso, segundo ele, a maior parte dessas vítimas são pobres,  moram em territórios dominados pelo tráfico ou pela milícia e se sentem intimidados na delegacia.  Agora, dona Izildete, que conhece pelo menos um dos policiais que abordaram o filho, luta para desarquivar o caso, encerrado por falta de provas em 2007.
Morte sem fim
Enquanto algumas mães levam suas denúncias adiante apesar das ameaças, algumas famílias ainda temem pela integridade de seus membros quando seus casos são  divulgados. Não é um medo vão. Basta lembrar que Edméia da Silva Euzébio, uma das famosas “Mães de Acari”, foi assassinada em  1993, quando fazia uma investigação paralela da morte do filho, Luiz Henrique Euzébio, de 17 anos.
Esse é o caso de Jaqueline,[1] cujo filho, Mateus, sumiu em Ramos, Zona Norte do Rio, no dia 9 de dezembro de 2006. Foi visto pela última vez na entrada da vila onde ficava a quitinete do amigo, Anderson.  Mateus era vistoriador de contêineres no porto. Tinha 23 anos, era casado e tinha um filho de  4 anos.  Naquele dia, Jaqueline tinha  falado várias vezes com o filho ao telefone. Ambos estavam trabalhando e combinaram ir ao shopping fazer “umas comprinhas de fim de ano”. No final do dia, depois de um desencontro entre os dois, Jaqueline, cansada, resolveu ir para a casa sem a esticada no shopping. Em seu último contato com o filho, ele estava na casa da avó.
No domingo, atrás de seu paradeiro, soube que “teve um problema lá”, na casa de Anderson. A quitinete, que até o dia anterior era mobiliada, estava vazia e com o chão lavado. Encontrou uma amiga deles ferida e com medo. Ouviu que “uns encapuzados”  pegaram Mateus e o amigo e os torturaram. Concluiu que foram mortos  por milicianos que aterrissaram em Ramos, 15 dias antes.
A mãe buscou notícias do filho em todos os hospitais, nos batalhões, na delegacia por semanas. “Não tem um dia em que eu não chore por ele”, diz ela. Quase dois meses depois, no dia 23 de janeiro, apareceu um corpo de um rapaz branco no Piscinão de Ramos. Ela só pôde reconhecê-lo por fotografia e no computador. O marido conseguiu ver a marca da bermuda do corpo, justamente a que Mateus gostava de vestir.  Quando levou a cópia de  arcada dentária do filho, então perfeita,  para fazer a comparação, a perita descartou de imediato, dizendo que  faltava um dente da frente na arcada do corpo. “É estranho jovem hoje em dia sem o dente da frente”, desconfiou ela. Sentia que podia ser o filho, queria um exame de DNA  ou pelo menos o acesso à sua arcada dentária,  mas não conseguiu impedir que fosse enterrado como indigente. Trâmites burocráticos difíceis de cumprir em 72 horas, para quem não tem dinheiro para pagar um bom advogado. Mais tarde, no mês de maio, conseguiram, através da defensoria pública, um levantamento de todos os corpos de indigentes enterrados  naquele período. Jaqueline tinha o Boletim de Ocorrência do encontro do corpo que julgava ser de seu filho, com o registro de 021-0558/2007. Ao ser transferido para o IML, o corpo passou a ser identificado como corpo da “guia 23”, da 21 DP. No levantamento, o “homem guia 23/21 DP”   tinha falecido em 7 de fevereiro.
Além de ser uma morte sem fim, já que não há corpo, sepultura e um momento específico para o luto,  um desaparecido que nunca vai voltar, como Mateus,  gera uma série de desgastes civis para suas famílias. Sem atestado de óbito,  foi demitido por justa causa, sem direito à indenização. Seus dependentes ficaram anos sem direito à pensão nem ao seguro de vida.  O carro, com mais da metade das prestações pagas – cuja propriedade seria de Mateus em caso de morte – ficou perdido.
O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, Marcelo Freixo, acredita que o número dos desaparecidos no Rio de Janeiro tem aumentado nos últimos anos em razão do advento das milícias.  Os números do Instituto de Segurança Pública corroboram essa tese. Há um crescimento expressivo do número de desaparecimentos nas Zona Norte e Oeste do Rio de Janeiro, onde há notória presença de milícias,  se comparados os dados entre 2006 e 2010. Na Zona Norte, o número aumentou 16%, saindo de 843, em 2006, para 979, em 2010.  Já na Zona Oeste o salto é ainda mais expressivo: foram 638 desaparecidos em 2006 e 1.038 em 2010, ou seja um aumento de 62,5 %.
Maurício Campos, do Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, explica que entre 2006 e 2008 houve a implantação das milícias  nessas regiões e a prática de extermínio é geralmente usada como “moeda de troca dos grupos mafiosos na hora de se impor territorialmente”.  Embora o desaparecimento de corpos  possa ser vinculado a três atores: o tráfico, a polícia e a milícia, para Campos, é difícil separar as duas últimas categorias, pois geralmente miliciano é o policial sem farda, em seu bico nas  horas de folga. Essa dupla jornada tem sua origem na ditadura militar, nos grupos de extermínio pára-oficias, como o Esquadrão da Morte, que faziam o trabalho sujo e iam embora. “Agora a novidade é a presença territorial constante das milícias.” Para ele, a diminuição dos “autos de resistência”,  que caiu 25% de janeiro a junho de 2011, se comparado a 2010,  pode encobrir esses crimes, pois a política de extermínio continua. “Estes policiais deixam de registrar autos de resistência fardados e vão praticar o desaparecimento sem farda, sequestrando e sumindo com os corpos.”
Para Ignácio Cano, é necessário ter mais evidências  para se fazer uma conclusão nesse sentido. Concorda que quando a milícia entra em um território há um maior índice de assassinatos, mas acha que não dá para atribuir às milícias o aumento recente do número de desaparecidos. “Eles não precisam matar tanto depois de controlar o território. Teríamos que encontrar uma explicação de porque a milícia agora está sumindo com os corpos.” Cano inclusive tende a acreditar que a milícia mata menos do que o tráfico  porque não precisa estar em disputa constante de território e não troca tiro com a polícia.

PLENÁRIA DO GRITO DOS EXCLUÍDOS - 01/09




PLENÁRIA DO GRITO DOS EXCLUÍDOS

QUINTA-FEIRA 01 DE SETEMBRO DE 2011 ÀS 18h.

LOCAL: SINDPETRO – AVENIDA PASSOS, 34 - CENTRO


Companheir@s,

A Plenária dos Movimentos Sociais – PMS e a Plenária do Grito dos Excluídos, que reúnem o movimento sindical e os movimentos sociais combativos organizam mais uma vez a manifestação do dia sete de setembro, com concentração na esquina da Rua Uruguaiana com a Avenida Presidente Vargas ás 9h. da manhã. 

Como já é tradicional estaremos nos manifestando contra este modelo de desenvolvimento capitalista, predador da natureza e excludente da maioria do povo trabalhador brasileiro, sob a bandeira que unificou este ano as manifestações do GRITO DOS EXCLUÍDOS em todo o país:

PELA VIDA GRITA A TERRA...POR DIREITOS TODOS NÓS!

A importância política e econômica que adquire o Rio de Janeiro, devido à realização dos mega-eventos (Rio + vinte, Copa do Mundo, Olimpíadas), nos coloca a necessidade de reforçar esta tradicional atividade denunciando o modelo de desenvolvimento predador em curso e o superfaturamento das obras e a corrupção, as remoções ilegais, a ação criminosa da CSA – Thyssen Krupp em Santa Cruz, a expansão do agro-negócio no estado e a construção do porto de Açu em Campos, a tentativa de privatização da saúde com a implantação da Os’s, o descaso com os profissionais da educação, a retirada de direitos, os leilões do petróleo e o crime organizado a partir do aparelho do estado.

Convidamos sua entidade, organização, movimento, sindicato a participar da construção do GRITO DOS EXCLUÍDOS, se integrando neste esforço já na próxima plenária de organização.


PLENÁRIA DO GRITO DOS EXCLUÍDOS

QUINTA-FEIRA 01 DE SETEMBRO DE 2011 ÀS 18h.

LOCAL: SINDPETRO – AVENIDA PASSOS, 34 - CENTRO

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Anistia não anistia torturador, afirma Ivan Valente


O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) apresentou voto em separado ao parecer que defendia a rejeição ao Projeto de Lei 573/2011, que exclui da Lei da Anistia (Lei 6683/1979) os crimes cometidos por agentes públicos, militares e civis, entre eles o crime de tortura.

O PL 573 está em debate na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e provocou intenso debate na reunião da manhã desta quarta-feira 24. Muitos parlamentares devem votar a favor do relator Hugo Napoleão (DEM/PI), que defende o arquivamento do projeto. Entretanto, foi aprovado requerimento do deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP) pelo adiamento da discussão por cinco sessões.

A Lei da Anistia, de 28 de agosto de 1979, afirma em seu artigo 1º :“É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares”.

O PL 573/2011, apresentado pela deputada Luiza Erundina (PSB/SP), tira justamente essa amplitude da lei, ao definir que não se incluem entre os crimes conexos os cometidos por agentes públicos, militares ou civis, contra pessoas que, de modo efetivo ou suposto, praticaram crimes políticos. Em outra palavras, o PL exclui da Lei da Anistia os crimes cometidos durante a ditadura militar, incluindo a tortura, crime considerado inafiançável e insuscetível à anistia, conforme a Constituição Federal.

“A questão é muito polêmica. Os setores conservadores são contra o projeto porque não admitem que os militares e agentes do Estado que torturaram e mataram durante da ditadura sejam punidos. Querem deixar a Lei de Anistia como está. Já nós entendemos que o projeto é fundamental para garantir o direito à memória e a Justiça no país. Estamos fazendo história ao mudar essa lei. O projeto é de interesse público e mexa coma vida de muitos que estiveram na luta contra a ditadura”, argumentou o deputado Ivan Valente.

LEIA ABAIXO o voto em separado do Deputado Federal Ivan Valente.

COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL
PROJETO DE LEI N. 573, DE 2011

Dá interpretação autêntica ao disposto no art. 1º, § 1º, da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979.
Autora: Deputada LUIZA ERUNDINA
Relator: Deputado HUGO NAPOLEÃO

VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO IVAN VALENTE

I – RELATÓRIO

Versa o PL 573/2011 sobre interpretação da Lei n. 6.683/1979, que concedeu anistia criminal e disciplinar para atos cometidos durante o regime militar. Pretende o projeto interpretar autenticamente, por meio de lei, a abrangência da expressão “crimes conexos” contida no art. 1º, § 1º da referida lei de anistia, excluindo dessa interpretação “os crimes cometidos por agentes públicos, militares ou civis, contra pessoas que, de modo efetivo ou suposto, praticaram crimes políticos”. O projeto retroage os efeitos da lei à data de publicação da Lei n. 6.683/1979, estipulando que “a prescrição, ou qualquer outra disposição análoga de exclusão da punibilidade, não se aplica aos crimes não incluídos na anistia concedida pela Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979”.

Na Justificativa, a ilustre autora, Deputada Luíza Erundina (PSB/SP), argumenta que a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) n. 153, de 29 de abril de 2010, não encerrou o debate levantado em torno do âmbito da anistia declarada pela Lei n. 6.683, de 28 de agosto de 1979. Nesse acórdão, o tribunal teria dado à expressão “crimes conexos”, empregada no caput e no § 1º do art. 1º daquele diploma legal, “um sentido claramente oposto ao entendimento técnico tradicional da doutrina e da jurisprudência, tanto no Brasil quanto no estrangeiro”. Esse entendimento violaria o preceito constitucional fundamental do art. 5º, XLIII, assim como o sistema internacional de direitos humanos. Lembra, ainda, que “nenhuma lei anterior à promulgação de uma nova Constituição permanece em vigor quando infrinja algum de seus dispositivos fundamentais”. Em seguida cita trechos de sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, prolatada em 24 de novembro de 2010, cujos “Pontos Resolutivos” e “Reparações” estariam fundamentando a proposição.

Apresentada em 23/2/2011, por despacho de 14/4/2011 foi distribuída à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), sujeita a apreciação do Plenário, em regime de tramitação ordinária. Em 5/5/2011 foi-lhe apensado o PL 1124/2011.

O PL 1124/2011, de autoria do nobre Deputado Chico Alencar (PSOL/RJ), reproduz a mesma ementa e os arts. 1º, com redação semelhante e 2º, com redação idêntica (este, sem o parágrafo único, que na proposição principal, extingue a prescrição). O art. 1º difere no trecho final, uma vez que o projeto principal refere-se a “crimes políticos”, enquanto o apensado utiliza a expressão “atos contra a segurança nacional e a ordem política e social”.

Na Justificativa, o nobre autor utiliza a mesma argumentação vazada na proposição principal, colhendo fundamentação proposta pelo jurista Fábio Konder Comparato, acerca do desrespeito aos direitos humanos, com fulcro no julgamento em andamento na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que veio a se confirmar com a sentença de 24/11/2010. O ilustre autor atribui ao mencionado jurista a autoria do projeto, reapresentado em razão do arquivamento do PL 7430/2010, da Deputada Luciana Genro (PSOL/RS), arquivado por término de legislatura, o qual fora, ainda, inspirado em projeto similar de 1999, do ex-Deputado Marcos Rolim.

Em 2/5/2011 a proposição foi redistribuída, com inclusão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN). Nessa Comissão, obteve parecer pela rejeição.

É o relatório.

II – VOTO

Com a devida vênia do digno relator da matéria nesta Comissão, ousamos discordar do seu parecer.
Ora, todos sabem que a tortura, esse expediente medieval para arrancar a verdade a qualquer custo, continua existindo. Nada adiantou a modernização das leis penais, conforme propugnado desde o Marquês de Beccaria, em sua magistral obra “Dos delitos e das penas”, há mais de três séculos.

Na Idade Média, a tortura fazia parte do rito processual, ainda que todas as provas estivessem contra o acusado ou mesmo a seu favor. Era preciso torturá-lo, para que por esse meio houvesse a certeza plena da autoria do delito e, em consequência, o culpado iniciasse a expiação de suas faltas. A supremacia da vontade do poder soberano iria culminar com o espetáculo dantesco de sua morte na fogueira, na roda e em outros artefatos diabólicos a fazê-lo sentir o inferno em vida.

Importada do colonizador, a tortura sempre existiu no Brasil e continua existindo em pleno século XXI. Durante a ditadura militar ela foi simplesmente institucionalizada e praticada generalizadamente pelos órgãos repressores. Assim, os agentes do Estado, militares e policiais, sob a conivência omissa dos seus comandantes, ou cumprindo suas ordens, torturaram milhares de opositores do regime, na tentativa de arrancar-lhes os nomes dos camaradas de ideal. Muitos foram mortos ou estão “desaparecidos”, sem que lhes fosse dada a dignidade de um funeral e a certeza de uma sepultura onde seus familiares pudessem chorar-lhes a ausência.

Muitos eram meramente suspeitos e nem por isso deixaram de ser seviciados, julgados e condenados, às vezes à morte, sem qualquer processo.

Ainda hoje, como relata a revista Caros Amigos, deste mês de agosto, a tortura é uma triste realidade, especialmente nas polícias e presídios do país. Relata a revista, coerentemente, que essa prática é uma herança do regime militar. Maldita herança!

Então de nada adiantou nossa Constituição prescrever, dentre as garantias fundamentais que a tortura é equiparada aos crimes hediondos? Trata-se de um crime imprescritível, embora tal figura não conste de nossa Carta Magna, mas em respeito ao conteúdo humanitário das Convenções Internacionais que assim dispõem.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos entende que os crimes ditatoriais são imprescritíveis. O Chile foi punido pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em virtude de sua opção pela não responsabilização penal dos agentes da ditadura de Augusto Pinochet. Desta forma, o Brasil pode sofrer retaliações se não começar as investigações e punições aos agentes da ditadura brasileira.

O Direito Internacional Público recomenda que haja, em casos como o ocorrido em nosso país, uma Justiça Transicional. Nesses moldes, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou ao Brasil, em 2005, a adoção desse mecanismo de resgate histórico das lutas pela liberdade e pela democracia, preconizando:

- a revelação da verdade, mediante a abertura de arquivos do período e a criação de comissões da verdade imparciais;

- a responsabilização pessoal dos perpetradores de graves violações de direitos humanos, entendendo que a situação de impunidade é fator de inspiração e dá confiança a quem adota práticas violadoras de direitos;

- a reparação patrimonial dos danos às vítimas, através de indenizações financeiras;

- a reforma institucional dos serviços de segurança, expurgando de seus quadros quem propagava a teoria do período;

- a instituição de espaços de memória, para que as gerações futuras saibam que, no país, se praticou o terror em nome do Estado.

Estar-se-ia atendendo o que dispõe a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade, de 26 se novembro de 1968, para a qual, mesmo que o direito interno do país não os tipifique como crime, os atos de tortura são imprescritíveis. É o contrário do que propõem os opositores da alteração da Lei de Anistia, para quem o princípio da anterioridade da lei penal não permite que os torturadores de outrora sejam alcançados. Esse é um dos fundamentos esgrimidos pelo nobre relator, com o qual não podemos concordar.

O próprio Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu pela imprescritibilidade dos danos morais advindos de tortura no regime militar (REsp 1.000.009/PE, Rel. Min. Humberto Martins, DJU 21.2.2008). Por que não a responsabilização pelos crimes então cometidos, a título de proteger o Estado, mas em afronta total ao Direito e à Justiça?

Conforme relato contido no documento “Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964”, 
elaborado sob os auspícios do saudoso ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, quatro centenas de brasileiros desapareceram nos porões da ditadura e suas famílias aguardam até hoje que seja feita justiça.

É preciso, pois, resgatar a memória dos brasileiros assassinados ou desaparecidos durante a ditadura militar, dentre os quais, os mais conhecidos, Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Wladimir Herzog, Manoel Fiel Filho, Zuleika Angel Jones (Zuzu Angel), Honestino Monteiro Guimarães, Joaquinzão e outros tantos quase anônimos, incluindo os tombados na Guerrilha do Araguaia.

Em face do exposto exorto meus ilustres Pares pela APROVAÇÃO do Projeto de Lei n. 573/2011, nos termos deste VOTO EM SEPARADO e, portanto, contrário ao Parecer do ilustre Relator.

Sala da Comissão,

Deputado IVAN VALENTE (PSOL-SP)

domingo, 28 de agosto de 2011

CPI do Tráfico de Pessoas realiza Audiência Pública no Rio de Janeiro


Presidida pela Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e tendo como relatora a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), a CPI do Senado Federal que apura casos de tráfico nacional e internacional de pessoas Audiência Pública nesta segunda-feira (29), às 14h, no auditório Nelson Carneiro, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro, a CPI pretende obter dados para a elaboração de diagnóstico da situação do tráfico de pessoas, envolvendo casos de trabalho escravo rural e urbano, assim como de exploração sexual.

Entre os parlamentares, confirmaram presença os deputados federais Chico Alencar (PSOL-RJ), Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ); os deputados estaduais Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Janira Rocha (PSOL-RJ). Também haverá representantes do Ministério Público Federal, Procuradoria Geral do Trabalho, Procuradoria Geral de Justiça, Tribunal de Justiça do Estado, Superintendência da Polícia Federal, Polícia Civil, Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, OAB-RJ, ONG Davida, Movimento Helaiz e MHuD.


O objetivo da CPI é investigar o tráfico nacional e internacional de pessoas com foco nas migrações interna e transnacional para fins de trabalho escravo, trabalho doméstico forçado, turismo sexual e exploração sexual de homens e mulheres de diferentes orientações sexuais e crianças e adolescentes.

Já ocorreram diligências em Manaus/AM (01.07), que apurou casos de exploração sexual e trabalho doméstico, em Salvador/BA (08.08), que tratou de casos de migração interna e transnacional e rotas de tráfico para exploração sexual, em Belém/PA (22.08), que se concentrou nos casos de trabalho escravo masculino e migração transnacional para fins de exploração sexual feminina.

A CPI do tráfico nacional e internacional de pessoas vai visitar, até final de outubro, as cidades de Macapá/AP, Campo Grande/MS, Goiânia/GO, São Paulo/SP, Recife/PE, Fortaleza/CE e Natal/RN. E já disponibilizou uma página na internet em http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/traficodepessoas/ para receber denúncias sobre fatos relacionados ao objeto investigativo da CPI, com a garantia de que os denunciantes terão suas identidades preservadas.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do tráfico nacional e internacional de pessoas foi criada a partir de requerimento da senadora Marinor Brito (PSOL-PA) em março passado, foi instalada em junho, funcionará por 120 dias e já teve pedido de prorrogação ampliado por mais 180 dias.

A CPI vai apresentar, ao final de seus trabalhos, propostas legislativas destinadas a coibir essa prática criminosa que é o tráfico de pessoas no Brasil.

Lucro - Apontado como uma das atividades criminosas mais lucrativas do mundo, o tráfico de pessoas faz cerca de 2,5 milhões de vítimas em todo o mundo, movimentando aproximadamente US$ 32 bilhões por ano, segundo a ONU. O banco de dados da Polícia Federal registra, de janeiro de 2010 até hoje, 214 inquéritos abertos no País para investigar tráfico de pessoas e crimes correlatos: aliciamento para fim de emigração, mediação para lascívia, simulação de casamento, rufianismo.

"Tememos ser os próximos a morrer", afirma dirigente do MST no Pará


Por Gabriel Bonis
Da Página da Carta Capital

“Essa morte nada mais é do que a permissão para assassinar, o direito de uma classe exercer a violência sobre a outra via eliminação física”. É assim que a liderança do MST no Sul do Pará, Charles Trocate, define o assassinato do agricultor Valdemar Oliveira Barbosa, 56, na manhã desta quinta-feira 25, em Marabá, em conversa com o site de CartaCapital, por telefone.
De acordo com nota divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Barbosa, que era sócio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e líder de ocupações de terras na região, foi morto a tiros por dois pistoleiros que trafegavam em uma moto.
Segundo a Agência Pará de notícias, órgão do governo do estado, a Polícia Civil já iniciou as investigações sobre o assassinato, o sexto de uma liderança camponesa no estado apenas em 2011 e com um agravante: a vítima já havia registrado denúncia de ameaça à Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá em maio deste ano. “Vivemos em uma situação de preocupação, em que seremos o próximo a morrer”, desabafa Trocati.
Há cerca de um ano, Valdemar passou a coordenar um grupo de famílias que ocupava a Fazenda Califórnia na cidade de Jacundá, despejado do local no fim de 2010. Porém, Piauí, como era conhecido, ameaçava retomar o acampamento.
A CPT, assim como Trocati, acredita que o crime pode ter ligação com a tentativa de reocupar a fazenda. “Numa região em que há essa fração da burguesia agrária e onde os recursos públicos agem para coibir e eliminar fisicamente, não há outro depositário dessa morte se não o latifúndio”, diz a liderança do MST.
Segundo Trocati, nem mesmo a operação do governo federal “Defesa da Vida”, lançada no Pará, Rondônia e Amazonas em junho para combater o crime organizado e acelerar as investigações de mortes em assentamentos, apoiada pelo Exército e Forças Armadas, conseguiu solucionar o problema da violência contra lideranças camponesas. “O plano do governo é só falácia, estamos em uma região em que o progresso e o desenvolvimento está baseado no uso intensivo do capital natural”.
O militante ainda acusa a atual gestão do governador Simão Jatene (PSDB-PA) de compromisso com o latifúndio e repressão ao invés do diálogo. “Há uma mudança de paradigma no comportamento do Estado, na maneira de tratar problemas sociais, ambientais, ecológicos e agrários como casos policiais”. Para ele, a antecessora Ana Julia (PT-PA) também não tinha uma agenda de mudanças na política agrária, mas havia diálogo com os movimentos do campo. “Houve menos fogo cruzado”.
Após o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo em Nova Ipixuna, esse é o quarto trabalhador morto com indícios de motivação por disputa territorial. Apenas o caso dos ambientalistas foi parcialmente investigado e até o momento não houve prisões nos seis homicídios.

A urgência em se proteger Defensores de Direitos Humanos


A execução da juíza Patrícia Lourival Acioli é mais um alerta urgente para que seja implementado o Programa Estadual de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos o mais rápido possível. Patrícia vinha recebendo ameaças, mas permanecia sem medidas de proteção do Estado. Lamentavelmente, como em muitos outros casos no Brasil, as ameaças se concretizaram.
No Rio de Janeiro há muitos defensores ameaçados, a maioria em situações que envolvem a resistência comunitária a grandes empreendimentos e, como no caso da juíza Patrícia, ações contra violência policial e a ação de grupos de extermínio e milícias. A Justiça Global acompanha de perto alguns destes defensores, como Alexandre Anderson, Presidente da Ahomar (Associação de Pescadores Homens do Mar), que resiste a uma obra da Petrobras em Magé, e o deputado estadual Marcelo Freixo, que presidiu a CPI das Milícias e que atualmente preside a CPI sobre tráfico de armas. Freixo e Alexandre Anderson contam com escolta policial, ainda que a de Alexandre seja extremamente precária e tenha sido garantida somente após muita luta de organizações da sociedade civil.
A situação dos defensores ligados à Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência é ainda mais emblemática. Wanderley da Cunha, José Luis, Márcia Honorato e quatro irmãos de Josenildo dos Santos, morto em 2009 por policiais no Morro da Coroa, estão ameaçados e seguem sem proteção. Josilmar Macário, um dos irmãos, sobreviveu a um atentado a bala no ano passado, mas, assim como os outros, continua esperando por medidas protetivas que, ano após ano, vêm sendo postergada pelo governo do estado.
Em 2009, o governador Sérgio Cabral assinou, na presença de representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e do então Ministro de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, um convênio para implantar no estado o Programa Estadual. Passados mais de dois anos, o programa ainda não foi efetivamente implantado, o que aumenta o risco de vida dos defensores, fragiliza suas lutas e revela a falta de compromisso político do governo do estado.
Em 2005, quando vivemos a tragédia do assassinato da Missionária Dorothy Stang, no Pará, o governo daquele estado criou o programa local de proteção a defensores. Que não tenhamos que esperar mais uma tragédia anunciada para que o governo do Rio tome a mesma atitude.
Sandra Carvalho, 41 anos, é diretora adjunta da ONG Justiça Global Justiça Global.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Encontro para Formação do Setorial Nacional de Direitos Humanos do PSOL




Dias 26, 27 e 28 de Agosto na UFRJ – Campus Urca


Até o atual momento, a área de Direitos Humanos no PSOL tem ocupado lugar secundário, apartado do resto da vida e da atividade partidária no PSOL. No entanto, iniciativas políticas com impacto nacional na agenda do tema de direitos humanos, contaram com a forte presença de militantes do PSOL. Mesmo que não vinculadas necessariamente a uma discussão partidária clara, iniciativas como a CPI das Milícias presidida pelo deputado Marcelo Freixo; o Tribunal Popular, que reuniu sem grandes aportes centenas de militantes em São Paulo e emplacou o tema da criminalização da pobreza; e, mais recentemente, o Fórum Social Urbano e o fortalecimento e a construção de Comitês Populares da Copa e Olimpíadas; assim como o tema das pautas LGBTTs levados ao senado pela senadora Marinor Brito e à Câmara pelo deputado Jean Wyllys, tornaram-se importante marco na elaboração para o tema dos direitos humanos em uma perspectiva da esquerda socialista em nível nacional.

Com o intuito de dar um salto de qualidade e aprofundar os debates e desafios do tema diante de sua centralidade na atual fase de acumulação do capital, militantes do PSOL, imbuídos do desafio de consolidar uma discussão e organização em torno dessa temática, juntaram-se para pensar uma proposta de encontro nacional de Direitos Humanos.

A proposta tenta tratar de alguns dos temas principais dessa área em um momento de descrédito da política institucional, cenário que coloca em contradição a própria falácia liberal de que direitos humanos serão incorporados para todos em uma perspectiva universalizante. A ofensiva neodesenvolvimentista tem imposto pautas refratárias às políticas que de fato podem encarar a questão da igualdade e da liberdade da população mais pobre, substituindo-as pelo ufanismo do desenvolvimento, uma máscara para o avanço das relações do capital.

Enquanto isso, trabalhadores e trabalhadoras são forçadas a um trabalho precário e a uma vida sem bem estar e segurança, sofrendo com um padrão de consumo exacerbado e uma vida entre muros e criminalização. Entender o momento histórico em que se inscreve esse contexto e construir alternativas de luta contrahegemônicas da esquerda socialista à barbárie do capital significa fortalecer o potencial transformador e emancipador dos direitos humanos como luta por outra ordem social.

Proposta de temas:

- O primeiro tema – Reflexões Históricas sobre os Direitos Humanos – ao fazer uma recapitulação histórica sobre o surgimento da noção de direitos humanos que veio se consolidando na segunda metade do século XX, em grande parte sob o impacto do Holocausto, poderá dar a oportunidade de destrinchar a oposição (ou não-oposição) entre marxismo e Direitos Humanos.

- O segundo tema – A conjuntura dos Direitos Humanos no Brasil e no Mundo – terá igualmente a finalidade de um levantamento das violações de todo tipo que se aceleram na mesma medida da implementação do capitalismo neoliberal. E poderá promover uma discussão sobre todo tipo de contradição entre noções políticas consolidadas e a defesa incondicional dos Direitos Humanos.

- O terceiro tema – A ditadura e a estruturação da violência do Estado – poderá dar conta das relações profundas existentes hoje entre a violência desenfreada das forças policiais no Brasil contra uma parcela da população, a pobreza, e a impunidade que a sociedade concede aos crimes de tortura, assassinato e ocultação de corpos praticados fartamente durante a ditadura militar.

- O quarto tema – A militarização do Estado brasileiro – irá se aprofundar mais sobre as operações de controle policial das comunidades pobres, esses mecanismos policiais de disciplinamento dos pobres ao custo do extermínio e da opressão permanente, ao mesmo tempo vem travestida de operações como se fossem em prol da restauração da justiça, da ordem e da presença do Estado por meio de programas e ações sociais.

- O quinto tema – Mega-Eventos, Mega-Projetos e violações de Direitos Humanos – trará contribuição sobre o que representa o projeto desenvolvimentista que tem sua ação principal nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento, expulsando grupos originários, comunidades tradicionais (quilombolas, caiçaras, pescadores, entre outros) de suas terras e, portanto, recriando as bases para expansão do capital a partir da expropriação, criando relações precárias de vida e trabalho para os trabalhadores; e se completa através dos grandes eventos que removem grandes contingentes populacionais a partir da valorização de áreas urbanas que reorganizam a cidade de acordo com o fluxo do capital, impondo em ambos os casos a lógica de expropriação do capital, violando de todas as formas os direitos humanos da classe trabalhadora e da população empobrecida.


Programação


Dia 26 de Agosto de 2011

19:00 Abertura com a Presença dos Parlamentares (Marcelo Freixo, Chico Alencar, Marinor 
Brito) e representante da Fundação Lauro Campos

20:00 1ª mesa – Reflexões Históricas sobre os Direitos Humanos
José Damião Trindade e Marcelo Freixo


Dia 27 de Agosto de 2011

08:30 2ª Mesa – A conjuntura dos Direitos Humanos no Brasil e no Mundo
Renato Roseno e Paulo Bufallo


11:00 3ª Mesa – A ditadura e a estruturação da violência do Estado
Angela Mendes e Lucia Rodrigues


12:30 Almoço

14:00 Debate

15:00 4ª Mesa – A militarização do Estado brasileiro
Heder Souza e Isabel Mansur


16:30 Debate

18:00 Encerramento do dia

Dia 28 de Agosto de 2011

08:30 5ª Mesa – Mega-Eventos, Mega-Projetos e violações de Direitos Humanos
Guilherme Marques “Soninho” , Vereador Eliomar, Debora Prado, Senadora Marinor Brito


10:30 Debates

12:00 Almoço

13:30 Plenária Final e formação da setorial

19:00 Encerramento

A dinâmica será mesas, debates e grupos de trabalho com a Plenária final, para organizar as propostas da Setorial para o Congresso Nacional do PSOL.

É importante que os estados organizem encontros locais para que possamos ir acumulando até o Encontro Nacional. Os estados bancarão as suas delegações.

Estamos tentando achar local para hospedagem e buscar recursos para alimentação, mas por enquanto, ainda não temos nada, por isso a organização local para financiamento dos participantes é fundamental.

As inscrições serão feitas pelo e-mail: setorialnacionaldhpsol@gmail.com