quinta-feira, 12 de abril de 2012

Nota de repúdio à declaração da presidente Dilma Rousseff sobre tortura

Dilma Rousseff declarou: "Não tenho como impedir em todas as delegacias do Brasil de haver tortura”

A presidente do Brasil Dilma Rousseff disse ontem, em visita oficial aos EUA, durante sessão de perguntas feitas pela platéia na Universidade Harvard, que é incapaz de impedir que haja tortura no País - "Eu sei o que acontece, não tenho como impedir em todas as delegacias do Brasil de haver tortura.”

As entidades que aderem a esta nota repudiam a declaração da presidente e esperam, ainda, que a Presidência aclare com rapidez em que medida tal declaração reflete a posição do Estado brasileiro sobre o assunto.

A declaração de Dilma - ela mesma ex-presa política e vítima de tortura - é inadmissível sob qualquer circunstância, mas vem revestida de ainda maior gravidade porque ocorre num momento especialmente sensível. O País enfrenta hoje um debate acalorado sobre o estabelecimento da Comissão da Verdade, que conta com o apoio da presidente, para esclarecer crimes praticados durante a ditadura militar, incluindo o crime de tortura.

Paralelamente, o Brasil ainda não pôs em prática o mecanismo de prevenção à tortura, conforme compromisso assumido na ONU, em 2008. O governo brasileiro reluta também há mais de dois meses em dar publicidade ao relatório do Subcomitê de Prevenção da Tortura da ONU, que visitou o Brasil em setembro de 2011. Por fim, o País falha repetidamente em adotar medidas capazes de coibir a prática deste crime em inúmeros centros de detenção provisória, presídios e unidades sócio-educativas.

É muito grave que a autoridade máxima do País se declare incapaz para coibir o crime de tortura nas delegacias. E é ainda mais grave que tenha escolhido um momento de enorme visibilidade para fazer tal declaração.

As organizações abaixo-assinadas buscam cotidianamente combater a prática de tortura e temem que a declaração da presidente seja interpretada pela sociedade e autoridades públicas brasileiras como um aval e reconhecimento de impotência, incapacidade e rendição diante de uma das mais graves violações aos direitos humanos atualmente no Brasil.

Pedimos uma declaração explícita da presidente de que não tolerará a tortura e empenhará todos os esforços para combatê-la.



11 de Abril de 2012



ACAT – Associação dos Cristãos para Abolição da Tortura

Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS - ABIA

Centro de Direitos Humanos Dom Oscar Romero – CEDHOR

Conectas Direitos Humanos

Instituto Desenvolvimento e Direitos Humanos - IDDH

Instituto Terra, Trabalho e Cidadania – ITTC

Instituto Vladimir Herzog

Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC

Justiça Global

Pastoral Carcerária

2 comentários:

  1. vocês estão sendo irônicos? NÃO ENTENDI!

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  2. Não vejo ironia nenhuma no texto, muito pelo contrário. E, acabo concordando com a evidente falta de firmeza e compromisso da Presidente nesse sentido. O que pode gerar sim essa interpretação errônea por parte de autoridades militares e até ter uma repercussão no desenrolar da Comissão da Verdade... inacreditável essa declaração da Dilma.!

    belmiron@hotmail.com

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