A 5a. Edição do Cineclube Frei Tito, em 26/10/2011, serviu à discussão polêmica, porém necessária, sobre a política de drogas baseada na repressão e proibição da produção, circulação e consumo de determinadas substâncias.
Para estimular o debate, foi projetado o documentário Cortina de Fumaça, de Rodrigo Mac Niven, que trás uma abordagem honesta e consequente sobre o tema, sem qualquer mistificação moralista ou preconceituosa. O filme aborda a discussão quase que em sua complexa totalidade, não trata apenas das políticas repressivas em si, mas da história do proibicionismo e principalmente suas consequências.
Na oportunidade, contamos com a presença dos debatedores Renato Cinco, representante da Marcha da Maconha, Marcos Veríssimo, Doutorando da Universidade Federal Fluminense que pesquisa a cultura da maconha, e Mc Leonardo, da APAFUNK.
A proibição ao uso, consumo e circulação, de determinadas substâncias, pouco tem a ver com regras naturais ou aprioristicamente necessárias ao convívio humano, mas com formulações políticas historicamente determinadas, e assim devem ser encaradas, sem dogmas, com a razão aberta ao debate.
Muitas das substâncias que hoje rotumalos como droga, e proibimos, já estão entre nós há muitos anos e, por igual tempo, já conhecemos as suas mais amplas utilizações. No caso da maconha, por exemplo, conforme vimos no documentário apresentado, o homem lida com seus usos há mais de 6 mil anos. Da mesma forma a utilização da cocaína, heroína, ópio, álcool, cigarro, morfina, e outras drogas mais, não é de hoje.
Se por um lado já lidamos com as drogas há muito tempo, por outro podemos dizer que a política coordenada e intensificada de repressão a determinadas drogas é relativamente recente na história da humanidade. Trata-se de uma escolha política que ganha forma mais clara a partir da doutrina da “Guerra às Drogas”, capitaneada pelos Estados Unidos e seguida pela enorme maioria dos Estados Ocidentais. Amansando as mentes conservadoras e enriquecendo os capitalistas das industrias bélicas e demais setores que se nutrem da economia da proibição, o homem criou um novo inimigo, até então pouco badalado, as drogas.
O problema está que a política de Guerra às Drogas tem se provado não só ineficaz, uma vez que o consumo, produção e circulação, mantem-se estáveis, como também extremamente nociva à sociedade, principalmente nas camadas mais fragilizadas de nossa população, além de outros males mais.
A política proibicionista encobre, como uma cortina de fumaça, não só os mais mesquinhos interesses econômicos, como também uma reprovável e clara política de criminalização da pobreza. A proibição de determinadas drogas tem um claro recorte de classe. As substâncias permitidas ou proibidas não tem a correspondência necessária com o grau de nocividade à saúde, mas sim com aspectos históricos e culturais de hábitos de consumo e produção. É a população mais pobre quem banca com sua vida e liberdade o discurso agenciado da repressão.
Na criminalização da pobreza está a chave para entendermos também o enfoque da atuação repressiva do estado à produção e circulação, tratando de forma mais branda o consumo. É o ataque à produção e circulação que fomenta a intervenção internacional das potências sobre os países mais pobres, e que legitima momentos de estado de exceção, em que o Estado-polícia atua à revelia de suas próprias leis, invadindo casas populares sem mandados judiciais, procedendo revistas injustificadas e mesmo matando sem a menor previsão legal e mesmo legitimidade para tanto.
Uma das consequências ruins da proibição também, é que ela, por vezes, acaba por transformar o tema das drogas em quase um dogma, pouco contribuindo para que o debate seja feito a partir de um conhecimento sincero, responsável e científico sobre os males causados pelo consumo das drogas, pela política proibicionista e sobre os direitos humanos violados nesse processo.
A discussão trazida pelo nosso cineclube é apenas mais uma contribuição que esperamos ter dado a esse polêmico e aberto debate sobre a política repressiva das drogas, sua lógica, seus limites e, principalmente, suas consequências.
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