O que tem a ver a Rocinha, o Alemão, o Iraque e a espetacularização da ação policial? Recente publicação no wikileaks, comparava as UPP’s à tática de guerras imperialistas norte-americana. A velha máxima conservadora da defesa nacional, que até bem pouco reinava sem oponentes nos EUA, justifica “ocupações” de território pelo mundo. O filme fahrenheit9/11 (de Michael Moore) mostra muito bem o uso que foi feito da ação ideologicamente.
No Brasil, a ideologia de “guerra às drogas” tem sido utilizada como mote para a intervenção policial nos territórios populares. O pedido que antes era relegado a loucos ou torturadores da política institucional, mas que ecoava no senso comum foi cumprido: “Bota o exército, pra subir o morro”.
O que temos assistido é um processo perverso, onde o uso das forças armadas, a utilização de força desproporcional, armamentos pesados, revistas indiscriminadas e etc… produzem o espetáculo perfeito para na mais velha tradição “fascistóide”, criar unidade politica de todos em torno do inimigo comum, os traficantes.
Nesse cenário, se produzem mitos como o personagem “Nem” da Rocinha. Uma reportagem me chamou a atenção para o fato de que “Nem” havia trabalhado em serviços de limpeza na zona sul do Rio de janeiro até os 25 anos e somente posteriormente ingressou no mundo do tráfico. A reportagem usava esse discurso para nos mostrar como o tráfico foi uma opção consciente do franzino vilão da vez. Além de imaginar que o trabalho de “Nem” devia ser o mais adequado possível à acumulação capitalista contemporânea com super extração de mais valia a partir de baixas remunerações, exercício severo de controle do tempo de trabalho e vínculos precários.
A mídia burguesa ao trazer a tona esses fatos reforça a ameaça capitalista aos segmentos mais pauperizados e apela para que todos se satisfaçam com suas ocupações subalternas na ordem do capital, além de colocar mais lenha na fogueira da construção da caricatura adequada do vilão.
O efeito destas ações tem sido sim coibir algumas modalidades criminosas, provocando uma reestruturação espacial e de metodologia no trafico do Rio de Janeiro. O tráfico vai sendo expulso temporariamente das favelas e entra no fluxo de grande parte da população para outras áreas da região metropolitana do Rio de Janeiro.
A militarização da vida das camadas populares e a instauração da doutrina do choque nas ocupações e UPPs em territórios de favela têm produzido diversas reações da população que se vê alijada de exercer sua vida cultural e social da mesma forma e é exposta a toda sorte de violências psíquicas e/ou físicas nesses processos.
O cenário é de recrudescimento das ações coercitivas das elites econômicas (muito bem representadas pelos governo do estado do Rio de Janeiro, do município do RJ e do Brasil) . Prisão e violência indiscriminada aos movimentos sociais se universalizam como método diante dos crescentes questionamentos frente ao avanço da privatização do Estado e entrega de setores estratégicos a grandes capitalistas, no mesmo momento em que há uma relação íntima entre governantes e grande capital, haja visto o escândalo do helicóptero de Eike Batista.
Em meio ao aprofundamento da barbárie capitalista no Brasil, e em particular na metrópole com aspirações mundiais do Rio de Janeiro, a espetacularização das ações policiais participam da disputa ideológica para legitimação da barbárie capitalista em curso.
É necessário ecoar a voz aos oprimidos e explorados, construir conjuntamente estratégias para a denúncia dos processos que violam direitos humanos, mas também o desvelamento da lógica perversa de uso ideológico do espetáculo da militarização em curso.
*Zé Rodolfo é Assistente Social- Servidor UFRJ, Conselheiro CRESS-RJ.
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