Um grupo com cerca de 40 pessoas armadas invadiu na manhã desta sexta-feira 18 o acampamento de uma comunidade de índios Kaiowá Guarani, em Amambaí, Mato Grosso do Sul, e matou o cacique Nísio Gomes, 59 anos, com tiros de calibre 12. O ataque aconteceu por volta das 6h30 no acampamento conhecido como Tekoha Guaviry.
As informações são do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Segundo a entidade, a vítima, depois de morta, foi levada pelos pistoleiros, como já havia acontecido em outros massacres cometidos contra os Kaiowá Guarani.
Ainda de acordo com o Cimi, a comunidade está em estado de choque. Devido ao nervosismo, ainda não se sabe se além de Nísio outros indígenas foram mortos. Outros dois jovens e uma criança teriam sido sequestrados pelo grupo.
“Estavam todos de máscaras, com jaquetas escuras. Chegaram ao acampamento e pediram para todos irem para o chão. Portavam armas calibre 12”, disse um indígena da comunidade à assessoria de comunicação do conselho. Ele contou ter presenciado o ataque e pediu para não ter sua identidade revelada.
Conforme relato do indígena, o cacique foi executado com tiros na cabeça, no peito, nos braços e nas pernas. “Chegaram para matar nosso cacique”, afirmou. O filho de Nísio tentou impedir o assassinato do pai, segundo o indígena, e se atirou sobre um dos pistoleiros. Bateram no rapaz, mas ele não desistiu. Só o pararam com um tiro de borracha no peito.
O pai foi morto na frente do filho. Após o ataque, cerca de dez indígenas permaneciam ainda no acampamento. Os demais, fugiram pela mata.
Na comunidade, vivem cerca de 60 Kaiowá Guarani.
Decisão é de permanecer
A situação na comunidade é tensa em razão dos processos de demarcação de terras indígenas em disputa, na Justiça, entre índios e fazendeiros. Desde o dia 1º deste mês os indígenas ocupam um pedaço de terra entre as fazendas Chimarrão, Querência Nativa e Ouro Verde – instaladas em Território Indígena de ocupação tradicional dos Kaiowá.
Cartuchos das balas de borracha atiradas pelos atacantes dos indígenas
A ação dos pistoleiros foi respaldada por cerca de uma dezena de caminhonetes – marcas Hilux e S-10 nas cores preta, vermelha e verde. Na caçamba de uma delas o corpo do cacique Nísio foi levado, bem como os outros sequestrados, estejam mortos ou vivos.
“O povo continua no acampamento, nós vamos morrer tudo aqui mesmo. Não vamos sair do nosso tekoha”, afirmou o indígena. Ele disse ainda que a comunidade deseja enterrar o cacique na terra pela qual a liderança lutou a vida inteira. “Ele está morto. Não é possível que tenha sobrevivido com tiros na cabeça e por todo o corpo”, lamentou.
A comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambaí e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.
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